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POR QUE ALGUMAS IGREJAS EVANGÉLICAS QUESTIONAM A DOUTRINA DO PECADO ORIGINAL?

TONY SOUSA


O pecado original é uma doutrina cristã que pretende explicar a origem da imperfeição humana, do sofrimento e da existência do mal através da queda do homem. Tal doutrina nunca existiu no Judaísmo. Foi desenvolvida por Santo Agostinho, numa controvérsia com o monge Pelágio da Bretanha.

A doutrina do pecado original se apóia em várias passagens das Escrituras: a epístola de Paulo aos Romanos (5:12-21) e aos Coríntios (1 Co 15:22), e uma passagem do Salmo 51. Mas a primeira exposição sistemática sobre o pecado original - de cuja interpretação derivaram todas as controvérsias - é a de Agostinho de Hipona, no século IV. Foi também no século IV que se deu a conversão do Império Romano ao cristianismo. Segundo Le Goff, o dogma do pecado original teria contribuído para aumentar o poder de controle da Igreja sobre a vida sexual, na Idade Média.

Segundo a doutrina, os primeiros seres humanos e antepassados da humanidade, Adão e Eva, foram advertidos por Deus de que, se comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreriam. No entanto, instigados pela serpente, ambos comeram o fruto proibido, tendo Eva cedido primeiramente à tentação e posteriormente oferecido o fruto a Adão, que o aceitou. Ambos continuaram vivos, mas foram expulsos do Jardim do Éden.

Existem polêmicas quanto ao significado real dessa narrativa, em como em que constituiria tal pecado. Algumas denominações cristãs chegam mesmo a negar a sua existência. Na perspectiva cristã, a morte (imerecida) de Cristo é colocada como necessária para salvar os seres humanos desse "pecado de origem", que seria congênito e hereditário. As doutrinas a respeito do pecado original têm sido historicamente um dos principais motivos para o surgimento de heresias e para os cisma entre os cristãos, desde os primeiros séculos da era cristã.

Um dos problemas da doutrina do pecado original é que ela deixa de considerar outras passagens do texto bíblico, as quais indicam que as origens do pecado estariam na rebelião de satanás, e portanto, seriam anteriores à desobediência do homem no Éden. - (Mateus 25:41 - João 8:44 - Ezequiel 28:11-19 - Isaías 14:12-20).

Outro problema com este dogma é a existência de outros textos bíblicos nos quais Deus elimina a hereditariedade do pecado e demonstra que não pune uma pessoa por causa do pecado da outra (Jeremias 31:29-30 - Deuteronômio 24:16 - Romanos 14:12 - Confira aqui outro texto sobre o tema) - Isto denota que a raça humana herdou sim a natureza pecaminosa de Adão, mas como Deus é muito justo, ELE enviou Jesus Cristo (o segundo Adão) para endireitar aquilo que Adão entortou. O sangue de Jesus Cristo é mais poderoso do que o pecado de Adão. Este sangue é a propiciação pelos pecados do mundo todo e não de "meia dúzia de eleitos" como afirmam por aí. "E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo" - 1 João 2:2

Cientes disto, podemos afirmar que o dogma do pecado original, apesar de ter sido criado pela igreja católica não fere os princípios fundamentais do evangelho e da fé cristã. O que fere o evangelho é afirmar que o batismo infantil livra aquele que é batizado do pecado original, como tem sido propagado por muitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LE GOFF, Jaques; FRUONG, Nicolas. Uma história do corpo na Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
Oxford Dictionary of the Christian Church (Oxford University Press 2005 ISBN 978-0-19-280290-3), article Original Sin.