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O BATISMO COM FOGO E O CALVINISMO

Por Tiago Rosas

“vos batizará... com fogo” (Mateus 3.11; Lucas 3.16)

Não tratamos aqui da subsequencialidade do batismo no Espírito Santo à regeneração, nem da questão da evidência inicial do batismo no Espírito Santo, as línguas, conforme o Pentecostalismo clássico. Nosso intuito é apenas apresentar posicionamentos de expoentes calvinistas sobre a expressão “batismo no Espírito Santo e fogo” como sendo referência a um único batismo e para crentes, ou, no máximo, um único batismo com dupla aplicação: o fogo que purifica o crente, mas também condena o incrédulo. Assim, provamos: 1. Que a compreensão do batismo com Espírito Santo e fogo como uma benção para crentes não é uma abordagem pentecostal inédita (século XX); 2. Que há uma possibilidade interpretativa legítima e tradicionalmente abraçada pelo pentecostalismo clássico (embora não unanimemente), mas que nem de longe lhe é exclusiva, sendo antes partilhada por outras escolas teológicas, inclusive não pentecostais. 

JOÃO CALVINO (1509-1564)

“O que, pois, João quis dizer ao afirmar que ele certamente batizava com água, mas que logo Cristo viria batizando com o Espírito Santo e com fogo [Mt 3.11; Lc 3.16]? (...) ele comparou sua pessoa com a pessoa de Cristo, dizendo ser ele ministro da água; Aquele é o doador do Espírito Santo; e este poder ele manifestaria com um milagre visível no dia em que enviasse o Espírito Santo aos apóstolos em forma de línguas de fogo [At 2.3]” (Institutas, 4.15.8)

“Assim, no dia de Pentecostes se diz que os apóstolos se lembraram das palavras do Senhor acerca do batismo de fogo e do Espírito [At 1.5]” (Institutas, 4.15.18)

“(...) batizar pelo Espírito Santo e pelo fogo equivale a conferir o Espírito Santo, o qual na regeneração tem a propriedade e a natureza do fogo” (Institutas, 4.15.25)

“A palavra fogo é adicionado como um epíteto, e é aplicado ao Espírito, porque ele tira as nossas poluições, como o fogo purifica o ouro. Da mesma forma, ele é metaforicamente chamado de água em outra passagem (João 3.5)” (Comentário de Mateus 3.11).
   
MATTHEW HENRY (1662-1714)

“Aqueles que são batizados com o Espírito Santo, são batizados como que com o fogo. Os sete espíritos de Deus aparecem como sete lâmpadas de fogo (Ap 4.5). O fogo ilumina? Também o Espírito é um Espírito que ilumina. O fogo aquece? E os corações não queimam dentro deles? O fogo consome? E o Espírito de julgamento, como um Espírito que arde, não consome as impurezas das corrupções dos pecadores? O fogo torna tudo o que alcança semelhante a si? E se move para o alto? Também o Espírito torna a alma santa como Ele mesmo o é, e tende a se dirigir para o céu. Cristo diz: ‘Vim lançar fogo na terra’ (Lc 12.49) (...) João não consegue fazer nada, além de batizar ‘com água’, como símbolo de que eles se purificavam e se livravam das impurezas; mas Cristo pode, e irá, batizar ‘com o Espírito Santo’. Ele pode permitir que o Espírito limpe e purifique o coração, não somente como a água remove a sujeira do exterior, mas como o fogo expurga a sujeira do interior, e derrete o metal, para que possa ser usado em um novo molde” (Comentário Bíblico Matthew Henry, Novo Testamento, vol. 5 [comentários de Mateus 3.11 e Lucas 3.16], CPAD)

D.A. CARSON (1946-)

“Muitos veem isso como um duplo batismo, um no Espirito Santo para o justo e outro no fogo para o impenitente (cf. o trigo e a palha no v. 12). (...) Há bons motivos, contudo, para falar de ‘fogo’, junto com o Espirito Santo, como agente purificador. As pessoas a quem João se dirige estão sendo batizadas por ele; elas, provavelmente, arrependeram-se. Mais importante, a preposição em (‘com’) não é repetida antes de fogo: uma preposição governa o ‘Espirito Santo’ e o ‘fogo’, e isso normalmente sugere um conceito unificado, Espirito-fogo, ou algo semelhante (cf. M. J. Harris, DNTT, 3:1178; Dunn Baptism [Batismo], p. 10-13). No Antigo Testamento, fogo, com frequência, tem uma conotação purificadora, não destrutiva (e.g., Is 1.25; Zc 13.9; Ml 3.2,3). O batismo de água de João relaciona-se com arrependimento; mas aquele de quem ele prepara o caminho administrara o batismo de Espirito-fogo que purifica e refina a pessoa”  (O comentário de Mateus, p. 135, Shedd Publicações)


HERNANDES DIAS LOPES

“Deus é fogo. Sua Palavra é fogo. Ele faz dos seus ministros labaredas de fogo. Jesus batiza com fogo, e o Espírito desceu em línguas como de fogo. O fogo ilumina, purifica, aquece e alastra. Jesus veio para lançar fogo sobre a terra. Hoje, muitas vezes, a igreja está fria. Parece mais uma geladeira a conservar intacto seu religiosismo do que uma fogueira a inflamar corações. Muitos crentes parecem mais uma barra de gelo do que uma labareda de fogo. Certa feita alguém perguntou a Dwight Moody: ‘Como podemos experimentar um reavivamento na igreja?’. O grande avivalista respondeu: ‘Acenda uma fogueira no púlpito’. Quando gravetos secos pegam fogo, até lenha verde começa a arder. (...) O Espírito, como o fogo, derrete o coração, separa e queima a escória, e acende sentimentos santos e devotos na alma. É na alma, como o fogo que está sobre o altar, que são oferecidos os sacrifícios espirituais. Este é o fogo que Jesus veio lançar na terra (Lc 12.49)” (Atos: a ação do Espírito Santo na vida da Igreja, p. 53,54, Hagnos)

Quem quiser criticar a hermenêutica pentecostal, está livre para fazê-lo. Mas antes de criticar o posicionamento clássico do Pentecostalismo que defende e prega o batismo com Espírito Santo e fogo como uma dádiva de Cristo para a igreja, lembrem-se que até João Calvino cria assim também!

Fonte: Tiago Rosas- Facebook– (clique no link para ver a postagem original).