UMA CARTA ABERTA DE A.W. TOZER PARA JOHN MACARTHUR: MESMO MORTO, ELE AINDA FALA
A.W. Tozer
Todos os cristãos podem e devem ser cheios do Espírito Santo. Ninguém cria polêmica contra esse fato… Quero ousadamente afirmar que tenho a alegre convicção de que todo cristão pode ter um derramamento abundante do Espírito Santo numa medida muito além daquela que se recebe na conversão, e posso também acrescentar, muito além da medida que gozam os crentes ortodoxos de hoje.
É importante que compreendamos isso com muita clareza, pois se as dúvidas não forem removidas, a fé é impossível. Deus não surpreenderá um coração que duvida com um derramamento do Espírito Santo, e Ele também não encherá com Seu Espírito pessoas que têm questionamentos doutrinários sobre a possibilidade desse enchimento.
Em vista disso, veremos como geralmente os cultos nas igrejas hoje são vazios e sem sentido. Os cultos têm todos os recursos, mas têm uma fraqueza deplorável: a ausência do poder do Espírito… Nem os pastores nem as pessoas conhecem ou desejam o poder do alto. Isso é nada menos do que trágico, principalmente porque está ocorrendo nas igrejas, onde os destinos eternos das pessoas estão envolvidos.
O fundamentalismo [que na época de Tozer era conservadorismo protestante rigoroso, sem o sentido negativo de hoje] se mantém contra o liberalismo, consciente de sua superioridade, mas caiu também em erro, o erro da fidelidade extrema à letra da Bíblia, o que representa simplesmente ortodoxia sem o Espírito Santo. Em todos os lugares entre os conservadores encontramos pessoas que são ensinadas com ensinos bíblicos, mas não são ensinadas pelo Espírito Santo. Na imaginação delas, a verdade é algo que dá para se compreender apenas com a mente.
Se uma pessoa é fiel aos princípios básicos da religião cristã, ela é vista como alguém que possui a verdade divina. Mas essa conclusão é falsa. Não existe verdade sem o Espírito Santo. O intelecto mais brilhante pode ser imbecil quando é confrontado com os mistérios de Deus. Para que alguém compreenda a verdade revelada é necessária uma ação de Deus igual à ação original que inspirou a Bíblia… “Nós, entretanto, não recebemos o espírito do mundo, mas, sim, o Espírito que vem de Deus, a fim de que possamos compreender o que por Deus nos foi outorgado gratuitamente.” (1 Coríntios 2:12 KJA)
O fato é que a fidelidade extrema à letra dos textos bíblicos tem como base a mesma premissa do velho racionalismo, isto é, a crença de que a mente humana é a autoridade suprema para julgar e avaliar a verdade. Ou, para explicar de outra forma, é confiar na capacidade da mente humana para fazer aquilo que a Bíblia declara que nunca foi criada para fazer e consequentemente é totalmente incapaz de fazer. O racionalismo filosófico é honesto o suficiente para rejeitar a Bíblia de forma categórica. O racionalismo teológico a rejeita, mas ao mesmo tempo finge aceitá-la e ao agir assim arranca os próprios olhos para nada enxergar.
Poucos são os que sem restrição abrirão o coração para o bendito Consolador. Ele é tão incompreendido e amplamente mal interpretado que basta mencionar o nome dEle em algumas igrejas para que muitas pessoas fiquem assustadas e comecem a resistir.
É inútil negar que Cristo foi crucificado por pessoas que hoje seriam chamadas de fundamentalistas [extremamente ortodoxos na interpretação da Bíblia]. Isso deveria preocupar e até angustiar os que se orgulham de sua ortodoxia. Uma alma infeliz cheia da letra da verdade pode realmente estar em situação pior do que um pagão que se ajoelha diante de um objeto de bruxaria. Somos salvos só quando nossos intelectos são habitados pelo fogo de amor que veio no Pentecostes. O Espírito Santo não é um luxo, nem algo que se acrescenta de vez em quando para se produzir uma classe de cristãos que existe uma só vez numa geração. Não. Ele é para todos os filhos de Deus uma necessidade vital, e o fato de que Ele enche e habita Seu povo deve fazer mais do que nos dar uma esperança fraca. Deve nos levar a compreender que temos um dever inescapável de ansiá-Lo.
Ora, a Bíblia ensina que há algo em Deus que é como emoção… Deus disse certas coisas sobre Si mesmo, e essas coisas fornecem todas as bases que precisamos. “Yahweh, o SENHOR teu Deus, está no meio de ti, agindo poderosamente para te salvar; ele terá enorme prazer em ti, e com seu amor te renovará completamente, e se alegrará contigo em grande comunhão com brados de vitória e júbilo!” (Sofonias 3:17 KJA) Esse é apenas um dos muitos versículos entre milhares que servem para formar nosso quadro racional de como é Deus, e nos dizem claramente que Deus sente algo como nosso amor, como nossa alegria e o que Ele sente O faz agir de forma muito semelhante ao que faríamos numa situação semelhante. Ele se regozija em Seus amados com alegria e canções.
Nessa passagem, vê-se com clareza a emoção expressa no nível mais elevado, emoção que flui do coração do próprio Deus. O sentimento, então, não é o filho degenerado da incredulidade que alguns professores da Bíblia muitas vezes pintam. Nossa capacidade de sentir é uma das marcas de que nossa origem é Deus. Não precisamos nos envergonhar de experimentar lágrimas ou risos. O cristão austero que esmagou seus sentimentos é apenas dois terços de um ser humano; uma terça parte dele, que é importante, foi repudiada. Sentimento santo tinha um lugar importante na vida de nosso Senhor. “Jesus, o qual, por causa do júbilo que lhe fora proposto, suportou a cruz, desprezando a vergonha” (Hebreus 12:2 KJA). Ele se retratou chorando: “Alegrai-vos comigo, pois hoje encontrei minha ovelha perdida” (Lucas 15:6 KJA).
A obra do Espírito Santo é, entre outras coisas, resgatar as emoções do homem redimido, colocar novas cordas em sua harpa e abrir de novo as fontes de alegria santa que foram obstruídas pelo pecado.
Aiden Wilson Tozer (21 de abril de 1897 – 12 de maio de 1963) foi um pastor, pregador, escritor, editor de revista e mentor espiritual nos Estados Unidos.
Traduzido por Julio Severo do artigo da revista Charisma: An Open Letter to John MacArthur From A.W. Tozer: He Being Dead Yet Speaketh
Fonte : www.juliosevero.com