A TEORIA DO ARREBATAMENTO PÓSTRIBULACIONISTA
Uma teoria que tem ganhado espaço no presente como explicação do momento de translação da igreja no período tribulacional é a teoria do arrebatamento pós-tribulacionista. Ela diz que a igreja continuará na terra até a segunda vinda, no final desta presente era, e será levada às nuvens para encontrar o Senhor que veio pelos ares, vindo do céu no segundo advento, para retornar imediatamente com Ele.
Reese, um dos principais expoentes dessa teoria, declara assim sua proposição:
A igreja de Cristo não será retirada da terra até o segundo advento de Cristo, bem no final desta presente era: o arrebatamento e o aparecimento ocorrem no mesmo momento de transição; consequentemente, os cristãos desta geração serão expostos às aflições finais sob o anticristo. (Alexander REESE, The approaching advent of Christ, p. 18)
I. A base Essencial do Arrebatamento Pós-Tribulacionista
Antes de examinar os argumentos usados pelos defensores dessa posição, devemos observar as bases essenciais sobre as quais repousa o pós-tribulacionismo.
1) O pós-tribulacionismo precisa basear-se numa negação do dispensacionalismo e de todas as distinções dispensacionalistas. Só assim pode colocar a igreja naquele período que é particularmente chamado "tempo de angústia para Jacó" (Jr 30.7).
2) Consequentemente, a posição pós-tribulacionista repousa na negação das distinções entre Israel e a igreja.
3) Aposição precisa repousar na negação do ensinamento bíblico concernente à natureza e ao propósito do período tribulacional. Embora as Escrituras usem termos como ira, julgamento, indignação, provações, problemas e destruição para descrevê-lo, e declarem que o propósito divino nesse período é derramar o julgamento sobre o pecado, os defensores dessa posição têm de negar esse ensinamento essencial da Palavra.
4) O pós-tribulacionista precisa negar todas as distinções observadas nas Escrituras entre o arrebatamento e o segundo advento, fazendo dos dois um e o mesmo acontecimento.
5) O pós-tribulacionista precisa negar a doutrina da iminência, que diz que o Senhor pode voltar a qualquer momento, substituindo-a pelo ensinamento de que vários sinais devem ser cumpridos antes que o Senhor possa vir.
6) O pós-tribulacionista nega qualquer cumprimento futuro da profecia em Daniel 9.24-27, alegando para ela um cumprimento histórico.
7) O pós-tribulacionista precisa aplicar à igreja grandes passagens das Escrituras que esboçam o plano de Deus para Israel (Mt 13; Mt 24 e 25; Ap 4-19), a fim de manter suas concepções. Observamos, assim, que a posição apoia-se essencialmente num sistema de negação das interpretações sustentadas pelos pré-tribulacionistas, e não numa exposição verificável das Escrituras.
II. Os Argumentos Essenciais do Pós-Tribulacionista
A. O argumento histórico. Existem vários grandes argumentos nos quais se apóia o pós-tribulacionista. O primeiro é um argumento histórico. Sua posição é que o pré-tribulacionismo é uma doutrina nova, surgida nos últimos cem anos, e, consequentemente, deve ser rejeitada pois não é apostólica. Reese declara:
Em torno de 1830 [...] nova escola surgiu dentre o prémilenarismo buscando derrubar o que, desde a era apostólica, tinha sido considerado por todos os pré-milenaristas resultados estabelecidos e instituir em seu lugar uma série de doutrinas que nunca tinham sido ouvidas antes. A escola a que me refiro é a dos "irmãos" ou "irmãos de Plymouth", fundada por J. N. Darby. (Ibid., p. 19)
Cameron fala na mesma linha:
Agora, devemos lembrar que, antes desta data, nenhuma pista de qualquer tratamento dessa crença pode ser encontrada na literatura cristã de Policarpo em diante [...] Certamente, uma doutrina que não encontra expoente ou defesa em toda a história e literatura do cristianismo, por mil e oitocentos anos depois da fundação da igreja — doutrina que nunca foi ensinada por um pai ou mestre no passado da igreja — que não tem a apoiá-la um comentador ou professor da língua grega em nenhuma escola teológica até a metade do século XIX, e que não tem um amigo, mesmo que se mencione o seu nome entre os mestres ortodoxos ou entre as seções heréticas do cristianismo — tal doutrina sem pai nem mãe, quando se ergue exigindo aceitação universal, deve ser submetida a minucioso exame antes de admitida e tabulada como parte "da fé entregue de uma vez por todas aos santos". (Robert CAMERON, Scriptural truth about the Lord's return, p. 72-3)
Em resposta a esse argumento, muitas coisas devem ser ressaltadas.
1) Tal argumento é um argumento de silêncio. Se a mesma linha de raciocínio fosse seguida, não se aceitaria sequer a doutrina de justificação pela fé, pois ela não foi claramente ensinada até a Reforma. A incapacidade de discernir o ensinamento das Escrituras não anula o ensinamento. [N.T. Destaque acrescido]
2) A igreja primitiva vivia à luz da crença do iminente retorno de Cristo. (Cf. G. H. N. PETERS, Theocratic kingdom, I, 494-6) Sua expectativa era de que Cristo poderia retornar a qualquer momento. O prétribulacionismo é a única posição coerente com a doutrina da iminência. Se um argumento de silêncio for seguido, o peso da evidência favorece a visão pré-tribulacionista.
3) Devemos observar que cada era da história da igreja foi permeada por certa controvérsia doutrinária que se tornou objeto de discussão, revisão e formulação, até que ocorresse aceitação geral do que as Escrituras ensinavam. Todo o campo teológico foi, então, formulado através dos séculos. Não foi senão no último século que a escatologia se tornou questão para a qual a igreja voltou a atenção. Isso foi bem desenvolvido por Orr, que escreve:
Já lhe ocorreu [...] que existe um paralelo singular entre o curso histórico do dogma, por um lado, e a ordem científica dos livros de teologia sistemática do outro?
A história do dogma, como você rapidamente descobre, é simplesmente o sistema de teologia espalhado através dos séculos [...] e isso não apenas no que diz respeito ao assunto geral, mas até mesmo com respeito à sucessão definitiva de suas partes [...] Uma coisa, penso, isso mostra inconfundivelmente, ou seja, que nenhum dos dois arranjos é arbitrário — existe uma lei e um raciocínio que o apóia; e outra coisa que se nos impõe é que a lei desses dois desenvolvimentos — o lógico e o histórico — é a mesma.
[...] o segundo século na história da igreja —o que foi ele?
A era dos apologistas e da vindicação das idéias fundamentais de todas as religiões —da cristã especialmente — em conflito com o paganismo e gnosticismo.
Passamos ao próximo estágio no desenvolvimento, e o que encontramos lá? O que vem em seguida no sistema teológico —teologia propriamente dita —a doutrina cristã de Deus e especialmente a doutrina da Trindade. Esse período é abrangido pelas controvérsias monarquiana, ariana e macedônica do terceiro e do quarto século.
[...] O que vem em seguida? Como no sistema lógico a teologia é sucedida pela antropologia, também na história do dogma as controvérsias que citei são seguidas no começo do quinto século pelas controvérsias agostiniana e pelagiana, nas quais [...] o centro de interesse passa de Deus para o homem.
[...] Desde a morte de Agostinho vemos a igreja entrando numa longa e perturbadora série de controvérsias conhecidas como cristológicas — nestoriana, eutiquiana, monofisista, monotelita— que a manteve numa agitação contínua e a dividiu, promovendo as paixões mais anticristãs durante o quinto e sexto e até mesmo o final do sétimo século.
[...] Teologia, antropologia, cristologia; cada um teve seu dia — na ordem do sistema teológico, que a história ainda segue cuidadosamente, [mas] a vez da soteriologia não chegou [...] [até] o próximo passo, que foi tomado pelos reformadores no desenvolvimento da doutrina da aplicação da redenção. Essa […] é a grande divisão seguinte no sistema teológico.
O que devo falar agora do ramo restante do sistema teológico, o escatológico? Uma escatologia, certamente, existia na igreja primitiva, mas ela não era concebida teologicamente; e existia uma escatologia mística na igreja medieval — escatologia do céu, do inferno e do purgatório [...] mas a Reforma varreu isso e, nos seus contrastes agudos de alegria e de aflição, não se pode dizer que tenha colocado alguma coisa no lugar, ou mesmo que tenha encarado distintamente as dificuldades do problema […]
Talvez eu não erre ao pensar que, além da revisão necessária do sistema teológico como um todo, que não poderia propriamente ser empreendida até que o desenvolvimento histórico citado tivesse seguido seu percurso, a mente moderna tem debatido com seriedade especial questões teológicas, movida, talvez, pela solene impressão de que nela os fins do mundo vieram, e que alguma grande transição nas questões da história humana se aproxima. (James ORR, The progress of dogma, p. 21-31)
Todo esse conceito de dogma seria nosso argumento contra o pós-tribulacionista que defende que a doutrina deve ser rejeitada por não ser claramente ensinada na igreja primitiva.
B. O argumento contra a iminência. Um segundo grande argumento dos pós-tribulacionistas é contra a iminência. (Cf. REESE, op. cit., p. 108-19) É evidente que, se a crença no iminente retorno de Cristo for doutrina bíblica, então a igreja deve ser arrebatada antes do desdobramento dos sinais do período tribulacional. O partidário dessa posição desconsidera todas as exortações bíblicas à igreja para aguardar o aparecimento de Cristo e insiste em que devemos buscar sinais. Sua posição repousa no argumento de que os anúncios de acontecimentos como a destruição de Jerusalém, a morte de Pedro, o aprisionamento de Paulo e o plano anunciado para os séculos vindouros, como encontrado em Mateus 28.19,20, junto com o curso esboçado desta era e o desenvolvimento da apostasia, tornam impossível um retorno iminente; por conseguinte o Senhor não poderia vir até que se dessem esses acontecimentos. Tais argumentos não levam em conta que os mesmos homens que receberam tais anúncios acreditavam que o curso natural da história poderia ser interrompido pela translação dos crentes para fora da esfera e sustentavam o conceito do retorno iminente de Cristo.
A doutrina da iminência é ensinada nas Escrituras em trechos como João 14.2,3; 1 Coríntios 1.7; Filipenses 3.20,21; 1 Tessalonicenses 1.9,10; 4.16,17; 5.5-9; Tito 2.13; Tiago 5.8,9; Apocalipse 3.10; 22.17-22.
Embora as concepções sobre a igreja primitiva venham a ser estudadas adiante, podemos fazer muitas citações a esta altura para mostrar que a igreja primitiva se apegava à doutrina da iminência. Clemente de Roma escreveu na Primeira epístola aos Coríntios:
Vocês vêem como em pouco tempo o fruto das árvores chega à maturidade. Verdadeiramente, logo e de repente Sua vontade será cumprida, assim como o testemunham as Escrituras, dizendo "Certamente venho sem demora e não tardarei"; e "... de repente virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais". (Alexander ROBERTS & James DONALDSON, The ante-Nicene fathers,I, p. 11)
Ainda Clemente escreve:
Se fizermos o que é justo perante os olhos de Deus, entraremos no Seu reino e receberemos as promessas que olho algum jamais viu, ou ouvido ouviu, ou jamais entrou no coração do homem. Logo, esperemos a cada hora o reino de Deus em amor e em justiça, porque não sabemos o dia em que o Senhor aparecerá. (Ap. J. F. SILVER, The Lord's return, p. 59.).
No Didaquê lemos:
Vigiai por amor às vossas vidas. Não se apaguem as vossas lâmpadas, nem estejam descingidos os vossos lombos; mas estejais prontos, pois não sabeis a hora em que o Senhor virá. (ROBERTS & DONALDSON, Op. cit, VII, p. 382)
Cipriano diz:
"Seria contraditório e incompatível para nós, que oramos para que o reino de Deus venha rapidamente, estarmos procurando uma longa vida aqui... ". (Ap. SILVER, op. cit., p. 67)
Essas citações evidenciam que a exortação à vigilância dirigida à igreja tornou-se a esperança da igreja primitiva, e que eles viviam à luz do retorno iminente de Cristo. O testemunho das Escrituras e a evidência da igreja primitiva não podem ser negados.
C. A promessa da tribulação. O terceiro grande argumento dos pós-tribulacionistas baseia-se na promessa de tribulação dada à igreja. (Cf. George ROSE, Tribulation till translation, p. 67-77) Passagens como Lucas 23.27-31, Mateus 24.9-11 e Marcos 13.9-13, que são dirigidas a Israel e lhe prometem tribulação, são usadas para provar que a igreja passará pelo período de tribulação. Além disso, trechos como João 15.18,19 e João 16.1,2,33, que são dirigidos à igreja, também são usados. Seu argumento é que, à luz de tais promessas específicas, é impossível dizer que a igreja será arrebatada antes do período tribulacional. Seu argumento é fundamentado pela citação de perseguições presentes em Atos, das quais a igreja foi vítima (At 8.1-3; 11.19; 14.22; Rm 12.12) como cumprimento parcial daqueles alertas.
1. Em resposta a esse argumento, é necessário notar, primeiramente, que as Escrituras estão repletas de promessas de que Israel passará por um tempo de purificação que o preparará como nação para o milênio seguinte ao advento do Messias. Contudo, como Israel deve ser distinguido da igreja na economia de Deus, as passagens que prometem tribulação para Israel não podem ser usadas para ensinar que a igreja passará pelo período tribulacional. Israel e a igreja são duas entidades distintas no plano de Deus e assim devem ser consideradas.
2. Além disso, devemos notar que o termo tribulação é usado de maneiras diferentes nas Escrituras. E usado em sentido não-técnico e não-escatológico referindo-se a qualquer período de sofrimento ou provação pelo qual alguém passa. Assim aparece em Mateus 13.21; Marcos 4.17; João 16.33; Romanos 5.3; 12.12; 2Coríntios 1.4; 2Tessalonicenses 1.4; Apocalipse 1.9. É usado no seu sentido técnico ou escatológico em referência a todo o período de sete anos da tribulação, como em Apocalipse 2.22 ou Mateus 24.29. É assim usado em referência à última metade desse período de sete anos, como em Mateus 24.21.
Quando a palavra tribulação é usada em referência à igreja, como em João 16.33, aparece em sentido não-técnico, na qual a igreja é vista como uma oposição duradoura ao deus deste século, mas não ensina que a igreja passará rigorosamente pelo período conhecido como tribulação. De outra maneira, alguém teria de ensinar que a tribulação já existe há mil e novecentos anos. Visto que os pós-tribulacionistas insistem em que a igreja, além de ter promessas de tribulação, está experimentando essa tribulação, assim como a igreja através dos tempos, eles devem dar àquele período caráter diferente do encontrado nas Escrituras. Será mostrado em detalhes mais adiante que a caracterização daquele período, de acordo com as Escrituras, é descrito por palavras como ira, julgamento, indignação, provação, problema e destruição. Essa caracterização essencial precisa ser negada pelo seguidor dessa posição.
D. O cumprimento histórico de Daniel 9.24-27. Um quarto grande argumento do pós-tribulacionista é o cumprimento histórico da profecia de Daniel. (Cf. Ibid., p. 24-66) Sustentam os pós-tribulacionistas que a profecia, particularmente a de Daniel 9.24-27, foi já cumprida na sua totalidade.
Rose escreve:
Toda a evidência do Novo Testamento e da experiência cristã concorda com os maiores mestres da igreja de que a septuagésima semana da profecia de Daniel foi totalmente cumprida há mais de mil e novecentos anos. Isso não deixa nenhuma septuagésima semana futura a ser cumprida na "grande tribulação depois do arrebatamento". (Ibid., p. 62) Ele defende a idéia de que não há intervalo entre a sexagésima nona e a septuagésima semana da profecia, dizendo:
Se existissem "espaços" e "intermissões", a profecia seria vaga, ilusória e enganosa [...] As "sessenta e duas semanas" imediatamente ligadas às "sete semanas", combinando-se para formar "sessenta e nove semanas", chegaram "ATÉ O MESSIAS". Além de Seu nascimento, mas não até sua "entrada triunfal"; apenas "ATÉ" sua consagração pública. Não existia "espaço" entre a "sexagésima nona e a septuagésima semana" [...] A "uma semana" das "setenta semanas" proféticas começou com João Batista; na sua primeira pregação pública sobre o reino de Deus, começou a dispensação do evangelho. Esses sete anos, adicionados aos quatrocentos e oitenta e três anos, somam quatrocentos e noventa anos [...] de modo que o todo da profecia, desde os tempos e acontecimentos correspondentes, foi cumprido ao pé da letra. (Ibid., p. 46-7)
Ele sustenta ainda que João começou o seu ministério com a chegada da "septuagésima semana", e Cristo foi batizado, tentado e começou a pregar meses depois. A primeira metade da semana foi usada para pregar o evangelho do reino [...] O meio da semana foi alcançado na Páscoa […]
A Páscoa [...] ocorreu exatamente no "meio da septuagésima semana", ou quatrocentos e oitenta e seis anos e meio depois "do mandamento para RESTAURAR e construir Jerusalém". (Ibid., p. 64-6)
Cristo, de acordo com essa teoria, é Aquele que confirma a aliança, e no período de Seu ministério as seis grandes promessas de Daniel 9.24 já foram cumpridas.
1. Em resposta a essa interpretação podemos notar que as seis grandes áreas da promessa em Daniel 9.24 estão relacionadas ao povo e à cidade santa de Daniel, ou seja, à nação de Israel. As promessas são a conseqüência lógica das alianças de Deus com essa nação. Israel, como nação, não pode estar cumprindo agora essas promessas. Desse modo, devemos concluir que essas seis áreas aguardam cumprimento futuro.
2. Ainda mais, o "ele" de Daniel 9.27 deve ter como antecedente "o príncipe que há de vir" do versículo anterior. Pelo fato de estar relacionado ao povo que destruiu a cidade e o santuário, isto é, os romanos, isso confirma que a aliança não pode ser Cristo, mas deve ser o homem da iniqüidade, mencionado por Cristo (Mt 24.15), por Paulo (2 Ts 2) e por João (Ap 13), que fará aliança falsa com Israel. O fato de continuarem a existir sacrifícios depois da morte de Cristo até o ano 70 d.C. apontaria para o fato de que não foi Cristo que causou o término desses sacrifícios. É interessante notar que o Senhor, no grande trecho escatológico que lida com o futuro de Israel (Mt 24 e 25), fala de um futuro cumprimento da profecia de Daniel (Mt 24.15) depois de Sua morte.
3. É importante notar que as profecias das primeiras sessenta e nove semanas foram cumpridas literalmente. Desse modo, é necessário um cumprimento literal da septuagésima semana, quanto ao tempo e quanto aos acontecimentos. Walvoord escreve:
O ponto importante [...] é que as primeiras sessenta e nove semanas tiveram cumprimento literal, no que diz respeito aos detalhes e à cronologia. Ao abordar a tarefa de interpretar a profecia sobre a septuagésima semana, para fazer justiça aos princípios aprovados pelo cumprimento das sessenta e nove semanas, precisamos aguardar cumprimento literal da septuagésima semana, tanto em detalhe quanto em cronologia. (JOHN F. WALVOORD, IS the seventieth week of Daniel future?, Bibliotheca Sacra, 101:35, Jan. 1944)
Visto que o arrebatamento pós-tribulacionalista está em desarmonia com o princípio da interpretação literal, pois as profecias precisam ser espiritualmente interpretadas para que possam cumprir-se pela história, tem de ser rejeitado.
E. O argumento baseado na ressurreição. O quinto argumento, do qual o pós-tribulacionista depende muito, provém da ressurreição. (Cf. REESE, op.cit, p. 34-94.) O argumento, baseado em Reese, é resumido por McPherson, que diz:
Evidentemente a ressurreição dos santos mortos ocorre no arrebatamento da igreja (l Ts 4.16). Conseqüentemente, "onde quer que houver ressurreição, lá também estará o arrebatamento". Examinando passagens que falam sobre a ressurreição dos santos mortos, que é a primeira ressurreição (Ap 20.5,6), encontramos que a primeira ressurreição está associada à vinda do Senhor (Is 26.19), à conversão de Israel (Rm 11.15), à inauguração do reino (Lc 14.14,15; Ap 20.4-6), à entrega dos galardões (Ap 11.15-18), vindo antes disso a grande tribulação (Dn 12.1-3). (S. MCPHERSON, Triumph through tribulation, p. 41) Stanton resume claramente o pensamento de Reese quando escreve:
O argumento de Reese toma a forma de silogismo, sendo as premissas principais:
1) as passagens do Antigo Testamento provam que a ressurreição de seus santos ocorrerá na revelação de Cristo, logo antes do reino milenar; sendo a premissa menos importante que
2) todos os darbyistas concordam em que a ressurreição da igreja é sincrônica à ressurreição de Israel; conseqüentemente, chega-se à conclusão
3) de que a ressurreição da igreja marca a hora do arrebatamento como pós-tribulacionalista. (Gerald STANTON, Kept from the hour, p. 320.)
1. Em resposta à conclusão de Reese, devemos apenas apontar que muitos pré-tribulacionistas atuais não concordam com a posição de Darby de que a ressurreição do arrebatamento inclui os santos do Antigo Testamento. Parece melhor colocar a ressurreição desses santos do Antigo Testamento no momento do segundo advento. Essa posição será examinada em detalhes mais tarde. Mas, se alguém separar a ressurreição da igreja da ressurreição de Israel, não existe força no argumento de Reese. O silogismo correto de Stanton esclarece isso:
1) Os santos do Antigo Testamento são ressuscitados depois da tribulação;
2) Darby diz que a ressurreição de Israel e da igreja ocorre antes da tribulação;
3) logo, Darby estava errado com respeito ao momento da ressurreição de Israel. (Ibid., p. 321)
Parece estranho que Reese, que tão freqüentemente sustenta que Darby está errado, insista em que ele é infalível nesse aspecto sobre a relação entre a ressurreição de Israel e a da igreja.
2. Outra linha de argumento seguida por Reese é insistir em que todo o plano de ressurreição ocorre em um dia. Isso é feito com base em João 5.28,29; 11.24. Ele argumenta:
... conseguimos localizar, com relativa exatidão, a hora dessa ressurreição. Ela deve ocorrer no dia do Senhor, quando o anticristo for destruído, Israel for convertido e a era messiânica for introduzida pela vinda do Senhor [...] A "ressurreição dos justos" [...] em todos os casos [...] ocorre "no último dia". Aqui está um momento muito definido [...] não deve haver dúvida de que "o último dia" é o dia final da era que precede o reino messiânico de glória. (REESE, op. cit., p. 52-4)
3. Em resposta a essa alegação, é suficiente destacar que o termo dia do Senhor, ou aquele dia, não se aplica a um período de 24 horas, mas a todo o plano de acontecimentos, incluindo o período de tribulação, o segundo advento e toda a era milenar. Pode-se dizer que assim será todo o período começando com os julgamentos da septuagésima semana até a era milenar.
Chafer diz:
Esse período estende-se desde a vinda de Cristo "como um ladrão na noite" (Mt 24.43; Lc 12.39,40; l Ts 5.2; 2Pe 3.10; Ap 16.15) até a passagem dos céus e da terra que agora existem e a fusão dos elementos com calor fervente [...] Poderá ser visto que esse dia inclui os julgamentos de Deus sobre as nações e sobre Israel, e que esses julgamentos ocorrerão no retorno de Cristo. Isso inclui o retorno de Cristo e o reino de mil anos que segue. Ele se estende certamente até a dissolução final com que o reino termina... (Lewis Sperry CHAFER, Systematic theology, VII, p. 110)
O próprio Reese é forçado a concordar, pois diz:
Algo pode ser dito a favor disso, pois Pedro diz que um dia com o Senhor é como mil anos; e o dia do Senhor no Antigo e no Novo Testamento às vezes se refere não apenas ao dia em que o Messias virá em glória, mas também ao período de seu Reinado. (REESE, op. cit., p. 55)
Assim, é errado concluir que "aquele dia" ou "o último dia" precisa ensinar que todos os santos ressuscitarão no mesmo momento. Devemos observar também que todos os trechos dos evangelhos usados por Reese (Jo 6.39-54; Lc 20.34-36; Mt 13.43; Lc 14.14,15) são aplicados ao plano de Deus para Israel. Se for demonstrado que a ressurreição ocorre no segundo advento, ela não prova o arrebatamento pós-tribulacionalista, a não ser que a igreja seja ressuscitada na mesma hora. Essa premissa é infundada.
4. Ao lidar com a ressurreição nas epístolas (Rm 11.15; 1 Co 15.50-54; l Ts 4.13-18; 1 Co 15.21-26), Reese trata do momento da ressurreição de 1 Coríntios 15.54: "E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória". Seu argumento é:
A ressurreição e transfiguração dos mortos na fé será em cumprimento a uma profecia do Antigo Testamento. Isso ocorre em Isaías 25.8 [...] A ressurreição dos santos e a vitória sobre a morte sincronizam-se com a inauguração do reino teocrático, a vinda de Jeová e a conversão dos israelitas que estiverem vivos. (Ibid., p. 63.)
5. Em resposta a essa alegação, frisaríamos que Paulo não está citando a passagem de Isaías para estabelecer o momento da ressurreição. A instituição da era milenar necessita da abolição da morte para aqueles que nela entrarão. Israel experimentará a ressurreição quando instaurado o milênio, mas a igreja já terá sido ressuscitada antes. O erro de Reese é supor que todos os mortos justos serão ressuscitados ao mesmo tempo.
6. A respeito da ressurreição mencionada em Apocalipse 20.4-6, Reese sustenta que, como ela é chamada primeira ressurreição, tem de necessariamente ser a primeira em número. Ele escreve:
Nenhuma palavra é dita por João sobre tal ressurreição em todo o Apocalipse. Nada pode ser encontrado a respeito de uma ressurreição anterior, seja aqui seja em qualquer outra parte da Palavra de Deus. Se tal ressurreição anterior fosse conhecida por João — como a teoria [pré-tribulacionista] pressupõe — então como é concebível que ele chamasse a essa ressurreição primeira? [...] Mas o fato de ele ter escrito primeira ressurreição será a prova para todos os leitores imparciais de que ele não conhecia nenhuma anterior. (Ibid., p. 81.)
Observamos aqui que Reese emprega um argumento de silêncio. Mal se poderia esperar que João mencionasse a ressurreição dos mortos em Cristo, que tinha acontecido anteriormente, em relação aos acontecimentos no final do período tribulacional, relacionados apenas aos santos da tribulação.
Um fato essencial que Reese parece ter negligenciado em toda a discussão sobre a ressurreição é o ensinamento de 1 Coríntios 15.23, "cada um por sua própria ordem". A primeira ressurreição é composta de grupos diferentes: os santos da igreja, do Antigo Testamento e da tribulação. Apesar de esses grupos serem ressuscitados em momentos diferentes, são parte do plano da primeira ressurreição e são "ordens" nesse plano. Conseqüentemente, a ressurreição dos santos da tribulação no momento do segundo advento (Ap 20.4-6) não prova que todos os que ressuscitam para a vida são levantados nesse momento. Toda essa doutrina de ressurreição será examinada mais tarde, mas foi dado o suficiente para mostrar que a doutrina da ressurreição não apóia o póstribulacionismo.
F. O argumento baseado ao trigo e no joio. Um sexto argumento usado pelos pós-tribulacionistas baseia-se na parábola do trigo e do joio de Mateus 13. Reese expõe o que ele acredita ser a interpretação pré-tribulacionista desta parábola. Citando Kelly, ele esboça a posição:
... a expressão "'hora da colheita' implica certo período, ocupado com vários processos de agrupamentos". No começo desse período os anjos são mandados de maneira puramente providencial, imediatamente antes da vinda do Senhor 'para a igreja'. De alguma maneira misteriosa, secreta e providencial, os anjos agrupam os meramente professos em montes preparados para o julgamento. Mas nenhum julgamento é realmente feito. O Senhor então vem para a verdadeira igreja, simbolizada pelo trigo, e a agrupa para si. Os meros professos, contudo, que tinham sido agrupados pelos anjos, permanecem no mundo por vários anos, até que o Senhor venha para julgar. (Ibid., p. 96-7)
Assim, Reese faz com que a interpretação pré-tribulacionista diga que os anjos agrupam o joio no final dos tempos, antes do arrebatamento, mas só transladarão a igreja, representada pelo trigo do campo, deixando o joio confinado para julgamento no seu lugar no segundo advento. Reese observa que essa explicação parece violar as palavras do Senhor: "Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro" (Mt 13.30). Parece que Reese tem uma reclamação justificável contra essa interpretação.
Devemos ter em mente que o propósito de Mateus 13 não é divulgar a história da igreja, mas a história do reino na sua forma misteriosa. O período não é o da igreja — de Pentecostes ao arrebatamento — mas toda a era desde a rejeição de Cristo até a Sua futura aceitação. Logo, parece ter havido um erro, no qual muitos escritores caíram, ao dizer que o trigo da parábola representa a igreja, que será arrebatada. Se tal for o caso, a posição do arrebatamento póstribulacionista parece encaixar-se mais coerentemente com a interpretação normal e literal da parábola. Contudo, o Senhor está mostrando que nessa era haverá a semeadura da boa semente (parábola do semeador) e também uma semeadura da má semente (parábola do joio), e essa condição continuará através dos séculos. No final dos tempos haverá a separação dos que foram filhos do reino em relação aos que foram filhos do maligno. Visto que o arrebatamento não está sendo tratado na parábola, não pode ser usado para apoiar o arrebatamento pós-tribulacionalista. O período tribulacional termina com o julgamento de todos os inimigos do Rei. Assim, todos os descrentes são retirados. Após esses julgamentos, é instituído o reino, ao qual todos os justos são levados. Isso é perfeitamente coerente com o ensinamento da parábola.
Das considerações apresentadas anteriormente a respeito dos argumentos pós-tribulacionistas, podemos observar que estão longe de ser "quase irrefutáveis". (Cf. MCPHERSON, loc. cit) Apesar de muitos argumentos parecerem sérios, podem ser refutados mediante interpretação coerente do texto.”
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