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CATELLION VS BEZA E CALVINO, UM DEBATE QUE VALIA A VIDA DE CASTELLION



Debate de Castellion contra Beza e Calvino (Neste debate Castellion estava defendendo sua vida). Debate realizado em 1558.

Você (Beza) vem por a debater que os oráculos e testemunhos das Santas Escrituras são manifestos. Por que, então, você faz tantas glosas e comentários das coisas manifestas? As glosas são declarações de uma coisa clara? Mas o que você quer dizer, visto que as coisas mesmas que são descritas claramente e sem figuras você nega a serem claras? São Paulo escreveu abertamente: "Deus quer que todos os homens sejam salvos (1 Timóteo 2:4)" e você nega a sentença interpretando essa palavra "TODOS" por toda a sorte de pessoas. Se sua interpretação é clara, certamente Paulo não falou claramente, pois ele deveria falar do seu modo. São Pedro escreveu abertamente que Deus não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (2 Pedro 3:9), e você evidentemente o nega. Deus diz abertamente: " Eu não quero a morte do pecador (Ezequiel 18:23)," o que ele disse mesmo dos maus. E você diz ao contrario que Deus criou um certo numero de pessoas para serem condenadas, dentre as quais ele quer de tal forma sua morte que eles não poderiam jamais serem salvos. Está escrito abertamente que Deus não quer a iniquidade, e Calvino escreve claramente que não se dão o roubo, nem a devassidão, nem o homicídio a não ser que a vontade de Deus ai intervenha. Eu te suplico, se Deus era da opinião de Calvino, porque ele jamais falou como Calvino? Deus não poderia em três palavras declarar essas coisas e nos desembaraçar desses labirintos de interpretações, principalmente sabendo bem que eles haveriam de existir? Se Ele (Deus) tivesse dito abertamente: "Eu criei um certo numero de pessoas para serem condenadas" e: " Eu quero a morte do pecador" (como vocês dizem ser a sua interpretação), toda a diferença seria suprida (...) De onde então procede a disputa senão da obscuridade das Escrituras? Mas você diz que tem a intenção de Cristo seguindo a autoridade de Paulo (1 co.2), o que é falso, pois São Paulo fala de si e de seus semelhantes, quer dizer, espirituais, e nós não podemos perceber por suas obras nenhuma espiritualidade em você.

Fonte: Castellion, Sebastien. De L' impunité des hérétiques p. 268 - 9 ( tambem pode ser achado no livro: É necessário queimar os Hereges? Pagina 37)