JESUS MORREU PARA SALVAR APENAS UM GRUPO DE ELEITOS?
Ao discorrer sobre a ocorrência de “todos” e “muitos” em Romanos 5, Van Johnson afirmou: “O leitor notará como Paulo passa livremente de ‘todos’ para ‘muitos’ ao longo de toda essa seção. [...] O uso de ‘muitos’ em oposição a ‘todos’ não é significativo, porque Paulo usa os termos intercambiavelmente. Os ‘muitos’ que morreram pela transgressão de um homem (v. 15) são certamente referência a todas as pessoas. E a natureza paralela dos versículos 18 e 19 sugere que o ‘todos’ do versículo 18 é equivalente ao ‘muitos’ do versículo 19” (Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento, CPAD).
Para o bom exegeta ou intérprete das Escrituras a etimologia — que se ocupa do estudo do étimo dos termos — não é o suficiente para a determinação do significado de um vocábulo ou uma frase constante das Escrituras. Faz-se necessário analisá-los à luz dos contextos geral e imediato, uma vez que as Escrituras são análogas. Os termos “todos” e “muitos”, em Romanos 5, como afirmou o exegeta Van Johnson, podem mudar de significado ao serem analisados juntamente com o contexto imediato e/ou confrontados com a analogia geral das Escrituras.
QUEM PECOU: TODOS OU MUITOS?
Em Romanos 5.12 está escrito que “por um homem [Adão] entrou o pecado no mundo” e que “a morte passou a todos os homens”, visto que “todos pecaram”. O termo “todos”, aqui — evidentemente — alude à totalidade do mundo, uma vez que os contextos imediato e remoto indicam que todas as pessoas do mundo, sem exceção, pecaram e vieram ao mundo, por conseguinte, já mortas em pecado. Há várias passagens bíblicas que confirmam isso (Rm 3; Gl 3; Jo 3; Ef 2; 1 Jo 1-2; Sl 51.5; Pv 20.9; Is 53, etc.).
Entretanto, em Romanos 5.15, está escrito que “pela ofensa de um [Adão], morreram muitos”. Aqui, o termo “muitos”, à luz do contexto imediato, denota “todos”. Por quê? Porque o versículo 12 mostra de modo claro e inequívoco que a morte passou à totalidade da humanidade depois da Queda. Além disso, como vimos, o contexto remoto (ou a analogia geral da Bíblia) também revela que o pecado original é extensivo a toda a humanidade.
Em Romanos 5.18 está escrito que “por uma só ofensa [a de Adão] veio o juízo sobre todos os homens para condenação” e que “por um só ato de justiça [realizado pelo Senhor Jesus] veio a graça sobre todos os homens para a justificação de vida”. O termo “todos”, aqui, sem dúvida — à luz do contexto imediato —, também alude à totalidade da humanidade pecadora. Afinal, todos nascem debaixo da condenação, visto que Deus nivelou toda a humanidade debaixo do pecado (Rm 11.32; Gl 3.22). Por outro lado, pela mesma lógica, todos os que crerem, considerando que Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.11; Tg 2.1), podem ser alcançados e salvos pela graça de Deus (Jo 3.16; Mc 16.15,16; Tt 2.11; 1 Tm 2.4; 4.10; 1 Jo 2.1,2).
POR QUEM JESUS MORREU: POR MUITOS OU POR TODOS?
Observemos agora o que diz a Palavra de Deus em Romanos 5.19: “pela desobediência de um só homem [Adão], muitos foram feitos pecadores”. E ainda: “pela obediência de um [Cristo], muitos serão feitos justos”. O primeiro “muitos”, nesse versículo, equivale a “todos”, uma vez que toda a humanidade, sem exceção, é pecadora. Mas o segundo “muitos” denota — curiosamente — “um grupo de pecadores” em relação à totalidade. Embora o Senhor Jesus, sem nenhuma dúvida, tenha provado a morte por toda a humanidade (Hb 2.9), haja vista ter Deus encerrado a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia (Rm 11.32), a Bíblia mostra que poucos são os que entram pela porta da salvação (Mt 7.13,14).
Em Romanos 5.6, a Palavra de Deus assevera que “Cristo morreu a seu tempo pelos ímpios”. Ele não deu a sua vida por um grupo seleto de santos e justos, e sim por ímpios e pecadores. E Paulo explica melhor o sentido de morrer pelos ímpios nos versículos posteriores: “Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (vv. 7,8). Além de ímpios, éramos, por antecipação, inimigos de Deus, visto que já nasceríamos em pecado (Rm 3.23; 5.12). O apóstolo Paulo esclarece que “se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida” (5.10).
Por conseguinte, de acordo com Romanos 5.1, não existem justos de nascimento. Se, hoje, somos considerados justos, é porque fomos justificados pelo Senhor Jesus. E isso decorre do seu sacrifício vicário e expiatório: “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (v. 9). E, diante do exposto, por quem Cristo morreu? Por um grupo seleto de eleitos? Não!
O Senhor e Salvador Jesus Cristo — sem nenhuma dúvida — provou a morte por todos os pecadores, ímpios e inimigos de Deus (1 Tm 2.4-6; 1 Jo 2.1,2). Ou seja, o Senhor deu a sua preciosa vida por mim e por você, prezado leitor, para que mediante a fé e o arrependimento recebamos pela graça a maior dádiva que o ser humano pode receber: a certeza da vida eterna (Jo 3.16; Rm 10.9,10). Ele não é o Salvador de um grupo de eleitos. Ele é o Salvador do mundo (Jo 4.42; 1 Jo 4.14). Glória ao Cordeiro de Deus!