O ESTRANHO METEORITO
PR. Claudionor de Andrade
Aquele meteorito poderia ter caído na Pérsia, no Japão ou em Jacarepaguá, onde moro. Ironicamente, veio a chocar-se no chão extremoso e quente de Meca. O evento causou muita estranheza e temor. Aturdidos, indagavam os filhos de Ismael: “O que é isso? Um mimo dos deuses? Mas de qual deles?”. Pois na cidade, sobravam deuses e faltava gente. Ao todo, 360. Um para cada dia do ano lunar. Havia inclusive um altar a Al-Ilah, o Deus Desconhecido dos árabes.
Como ninguém sabia de qual deus proviera a tal rocha, se deste, se daquele, os moradores de Meca houveram por bem venerar a todos. Em redor do sidéreo, ergueram um nicho para cada um de seus deuses. Imaginavam eles que, desse jeito, não haveria ciúme, nem desavença no panteão. Parece que o arranjo deu certo.
Os cristãos de Meca nenhuma importância emprestaram ao fenômeno. Afinal, não era a primeira vez que um meteorito despencava do céu. Se houvesse, porém, algum discernimento entre aqueles crentes, todo o sistema idolátrico de Meca teria vindo ao chão. Infelizmente, tinham eles outras prioridades.
Se os leigos nada fizeram, onde estavam os teólogos? Enquanto os árabes definiam-se religiosamente, os doutores da igreja ainda se achavam indefinidos quanto à natureza de Cristo. Atentemos a um fato curioso e prosaico. Foi entre os dois concílios eclesiásticos, que tiveram por sede a capital do Império Bizantino, que o Islã foi semeado, florescendo rapidamente pelo Oriente Médio, até frutificar às portas de Bizâncio.
No Segundo Concílio de Constantinopla, reunido em 553, os teólogos mais destacados da Igreja condenaram a doutrina de Orígenes e os escritos de Nestório. Só não condenaram a própria inércia. Vigílio, apesar de sua proeminência, nenhuma atenção deu à evangelização daqueles gentios. Ele bem que poderia ter sugerido o envio de missionários à Península Arábica. E, dessa forma, evitar que o Islã achasse um berço tão promissor. Maomé ainda não era nascido; a religiosidade de Ismael, porém, já havia sido dada à luz.
Passados 127 anos, os chefes da Igreja voltam a reunir-se em Constantinopla. A essas alturas, o islamismo já fronteirava a sé cristã do Oriente. Mais uma vez, nenhuma menção é feita ao novo e incontrolável fenômeno religioso. A impressão que se tem é que aqueles teólogos, apesar de sua proverbial erudição, viviam à margem da história. Solenemente congregados, limitaram-se a dogmatizar as duas naturezas de Cristo, e a condenar o monotelismo. Que a medida fosse urgente, não se discute. Discutível era a sua postura missionária, pois a verdadeira teologia sempre resulta na salvação de almas.
Agatão, a figura de proa desse concílio, nada fez para evangelizar os árabes. Antes, desperdiçou o seu pontificado em amenidades. Aparou as farpas do clero inglês, elevou o bispado da Irlanda, fortaleceu o papado, entre outras fatuidades. O Taumaturgo, como era conhecido, pouca importância deu à obra missionária.
Se os teólogos cristãos ainda se debatiam quanto à dupla natureza de Cristo, os árabes já não tinham qualquer dúvida sobre os dogmas do Islã. Para eles, Maomé já era um profeta maior que Jesus. Dessa forma, o meteorito, que poderia ter servido de contato para se apregoar o Evangelho às tribos ismaelitas, converteu-se numa pedra de tropeço para o Cristianismo.
De Meca, o astuto Maomé arrancou os nichos de todos os deuses, inclusive do Deus desconhecido. Jeitosamente, plasmou Al-Ilah à sua imagem e semelhança, dando-lhe a alcunha de Alá. Quanto ao meteorito, ao invés de ir parar num museu de história natural, ei-lo na Kaabah, o maior centro da peregrinação islâmica.
Em Atenas, deparara-se Paulo com uma situação semelhante. Havia, ali, um retiro para cada divindade do Olimpo e um altar consagrado ao Deus Desconhecido. A partir deste elo, o apóstolo acorrenta os gregos com o Evangelho de Cristo. Nem os filósofos deixaram de ouvir a proclamação da Palavra de Deus. Paulo soube como fazer teologia entre os que se agarravam à mitologia.
O que fazemos hoje não é a teologia salvadora. Reunimo-nos para discutir temas periféricos, que nenhuma edificação trazem. O problema agrava-se quando os acadêmicos ajuntam-se a fim de realçar suas posições doutrinárias. Nesses encontros, que mais parecem uma Babel e em nada lembram o Cenáculo, os evangelistas não têm vez, nem voz. Enquanto isso, as forças do mal vão a galope conquistando terrenos que antes pertenciam à Igreja de Cristo.
Conta-se que, enquanto os comunistas tomavam a Rússia, o clero ortodoxo discutia a indumentária de seus padres. Entretidos, não oraram pela nação, não expuseram o Evangelho, nem se reuniram em vigília. Veio, então, o comunismo, levando muitos padres, rabinos e pastores à morte. Diante do martírio, viram-se eles constrangidos a reconhecer a veleidade de seus concílios.
Não podemos agir como Bizâncio. Em suas digressões teológicas, veio a ignorar as almas que, diariamente, despencavam no inferno. Para o clero bizantino, a Mensagem da Cruz nenhum valor tinha. O resultado não poderia ter sido mais trágico. No ano de 1453, os turcos otomanos, empunhando a bandeira do Islã, entram em Constantinopla e subjugam a cidade que abrigara concelhos, mas que já não tinha conselho algum aos fiéis. Hoje, as paredes da Igreja de Santa Sofia expõem a vaidade de um clero que, diante do clamor do mundo, ainda se digladiava quanto à cristologia simples, porém eficaz do Novo Testamento. Sim, algo tão singelo que qualquer criança da Escola Dominical define com mestria e largueza.
Quando não pregamos, as pedras clamam. E, às vezes, de forma violenta.
Aproveitemos, pois, as oportunidades. Anunciemos a Cristo a tempo e fora de tempo. Ao nosso redor, há muitos pontos de contato, que podem ser aproveitados para falarmos do amor de Deus ao vizinho, ao colega de trabalho, ao companheiro de estudos e ao transeunte que, atribulado e sem direção, perambula por nossas ruas. Se proclamarmos o Evangelho conforme o Senhor nos ordena, em breve alcançaremos os confins da Terra com a mensagem de salvação. Cristo, a Rocha Eterna que desceu do Céu para fazer-nos subir ao Pai.