Por Carlos Brito

"Quanto a nosso irmão Apolo, insisti que ele os visitasse com os outros irmãos, mas ele não estava disposto a ir agora. Ele o fará mais tarde, quando tiver oportunidade" - 1 Coríntios 16:12
A Análise de 1 Coríntios 16:12 e a Escolha de Apolo:
Interessante observarmos que nem sempre estamos dispostos a realizar uma missão, embora muitos possam acreditar ser uma ordem, mandamento ou até mesmo uma revelação. Paulo não usou o texto de Mateus 25:36 para obrigar Apolo a realizar a missão que o capítulo 16 de 1 Coríntios está descrevendo.
Apolo, mesmo diante de um pedido de uma liderança como Paulo escolhe e decide não ir... A passagem em questão diz: 1 Coríntios 16:12 (ARA) - "Quanto ao irmão Apolo, roguei-lhe muito que fosse ter convosco, com os irmãos; ele, todavia, de modo nenhum quis ir agora; irá, porém, quando se lhe apresentar boa ocasião."
Para entender a profundidade dessa afirmação, vamos analisar os verbos no texto grego: Roguei-lhe muito (παρεκάλεσα, parakalesa): Este verbo, parakaleo, é frequentemente traduzido como "confortar", "exortar" ou "encorajar". Aqui, Paulo usa no sentido de insistir ou rogar. Ele não está dando uma ordem; ele está fazendo um pedido sincero e forte. A escolha de parakalesa por si só já indica que a decisão final não era dele, mas de Apolo.
De modo nenhum quis ir agora (πάντως οὐκ ἦν θέλημα ἵνα νῦν ἔλθῃ, pantōs ouk ēn thelēma hina nyn elthē): Esta é a parte central da sua análise. A frase grega é ainda mais enfática do que a tradução em português.
οὐκ ἦν θέλημα (ouk ēn thelēma): Literalmente, "não era vontade". A palavra θέλημα (thelēma) significa "vontade", "desejo" ou "propósito". Ela é a mesma palavra usada para a "vontade de Deus" em outros contextos. Aqui, ela se refere à vontade de Apolo. O uso do verbo no imperfeito (ēn, "era") indica um estado contínuo, ou seja, não era a sua vontade no momento.
A partícula πάντως (pantōs) significa "de modo nenhum" ou "absolutamente". Ela serve para intensificar a negação. Apolo não apenas "não estava disposto", mas não era absolutamente a sua vontade ir naquele momento.
A forma como Paulo descreve a decisão de Apolo é crucial. Ele não usa uma linguagem de desobediência ou rebeldia. Ele reconhece que, apesar de seu pedido insistente, a vontade pessoal de Apolo naquele momento não era ir. Isso demonstra um respeito profundo pela autonomia e discernimento de Apolo.
CONCLUSÃO
A passagem de 1 Coríntios 16:12 é um exemplo claro de como a vida cristã, mesmo entre líderes e colaboradores de alta relevância, envolve a liberdade de escolha e a tomada de decisões conscientes. Apolo não buscou um sinal ou uma nova revelação para recusar o pedido de Paulo. Ele simplesmente agiu de acordo com sua própria vontade (thelēma) e discernimento sobre o momento. Paulo, por sua vez, não questionou essa decisão. Pelo contrário, ele a respeitou e até mesmo a comunicou à igreja de Corinto de forma a tranquilizá-los, informando que Apolo iria quando tivesse uma "boa oportunidade" (eukairia). Este texto reforça a ideia de que a fé protestante valoriza a consciência individual e a capacidade de discernimento como componentes essenciais da jornada de fé, mesmo quando confrontados com pedidos que vem por parte da liderança ou de outros irmãos em Cristo...