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QUAL LÍNGUA FOI FALADA NO DIA DE PENTECOSTES?

ITARD VICTOR



Para elucidar esta questão, é necessário de antemão sabermos que o autor do livro de Atos, o evangelista Lucas, usou duas palavras distintas para se referir aos tipos de línguas faladas no dia do derramamento do E. Santo.
διαλκτ(dialekto)  (At 1:19)        e       γλσσαις (glóssais) (At 2:4)

Sabendo a definição de cada palavra dentro do contexto em que foram aplicadas, toda e qualquer dúvida deixa de existir. Começaremos evidenciando a palavra glóssais.

Bom, no versículo que inicia a narrativa das línguas que os discípulos falaram, contém a palavra glóssais. Essa palavra na maioria das vezes, com exceção em (At 2:11), sempre aparece nas passagens bíblicas onde o Espírito Santo era derramado sobre as pessoas. Vejamos os textos:

κουον γρ ατν λαλοντων γλσσαις κα μεγαλυνντων τν θεν. ττε πεκρθη Πτρος· (At 10:46 BNT)
Pois eles ouviam os não judeus falarem em línguas estranhas e louvarem a grandeza de Deus. Então Pedro disse: (At 10:46 NTLH)

κα πιθντος ατος το Παλου [τς] χερας λθε τ πνεμα τ γιον π ατος, λλουν τε γλσσαις κα προφτευον. (At 19:6 BNT)

E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam. (At 19:6 ARA)

κα πλσθησαν πντες πνεματος γου κα ρξαντο λαλεν τραις γλσσαις καθς τ πνεμα δδου ποφθγγεσθαι ατος. (At 2:4 BNT)

Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. (At 2:4 ARA)

E ainda temos mais uma ocorrência no texto onde Paulo ensina que, quem fala língua, não fala a homens, mas a Deus, isto é, esse tipo de linguagem só pode ser compreendido por Deus, caso não haja um intérprete (1Co 14:27-28).

γρ λαλν γλσσ οκ νθρποις λαλε λλ θε· οδες γρ κοει, πνεματι δ λαλε μυστρια· (1Co 14:2 BNT)

Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.  (1Co 14:2 ACF)

Em (At 2:4) vemos algo interessante.  A palavra glóssais está ladeada do vocábulo  hetérais que vem do grego heteros, cuja tradução é outras. Segundo William Carey Taylor, essa palavra significa: 
 λλος  e  τερος convidam elucidação. Como tanto outros sinônimos, se empregam popularmente sem distinção alguma em inúmeras passagens. Mas há diferença em várias passagens. λλος = outro (numericamente), τερος= outro (diferente); λλος, outro da mesma qualidade;   τερος, outro de natureza diferente, contrária. A.T Robertson insiste nesta distinção em Gl 1:6-7, onde Paulo não admite dois evangelhos lícitos ou toleráveis (οκ στιν λλο) mas classifica o “evangelho” judaizante como τερο (radicalmente diferente do único e verdadeiro evangelho). Assim em 2 Co 11:4. Mas em muitos casos, (1Co 12:9-11), é evidente que o autor varia de λλος a τερος para evitar monótona repetição. τερος, então, muitas vezes significa outro diferente (Luc 9:29; At 2:4; Rm 7:23; 1Co 14:21; Hb 7:11, 13, 15), mas λλος tem esta ideia de 1Co 15:39, e inúmeras vezes esta distinção é ausente da ideia de ambas as palavras.(Gramática William Carey Taylor. P. 295).

Acompanhemos agora a ocorrência da palavra dialekto. Diferente de glóssais,  dialekto sempre se refere ao idioma ou a língua que qualquer pessoa fala naturalmente. Vejamos os textos:

κα γνωστν γνετο πσι τος κατοικοσιν ερουσαλμ, στε κληθναι τ χωρον κενο τ δίᾳ διαλκτ ατν κελδαμχ, τοτ στιν χωρον αματος. (At 1:19 BNT)

e isto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, de maneira que em sua própria língua esse campo era chamado Aceldama, isto é, Campo de Sangue. (At 1:19 ARA)

γενομνης δ τς φωνς τατης συνλθεν τ πλθος κα συνεχθη, τι κουον ες καστος τ δίᾳ διαλκτ λαλοντων ατν. (At 2:6 BNT)


Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. (At 2:6 ARA)

κα πς μες κοομεν καστος τ δίᾳ διαλκτ μν ν γεννθημεν (At 2:8 BNT)

E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? (At 2:8 ARA)

πιτρψαντος δ ατο Παλος στς π τν ναβαθμν κατσεισεν τ χειρ τ λα. πολλς δ σιγς γενομνης προσεφνησεν τ βραδι διαλκτ λγων· (At 21:40 BNT)

Obtida a permissão, Paulo, em pé na escada, fez com a mão sinal ao povo. Fez-se grande silêncio, e ele falou em língua hebraica, dizendo: (At 21:40 ARA)

κοσαντες δ τι τ βραδι διαλκτ προσεφνει ατος, μλλον παρσχον συχαν. κα φησν· (At 22:2 BNT)

Quando ouviram que lhes falava em língua hebraica, guardaram ainda maior silêncio. E continuou: (At 22:2 ARA)

πντων τε καταπεσντων μν ες τν γν κουσα φωνν λγουσαν πρς με τ βραδι διαλκτ· Σαολ Σαολ, τ με δικεις; σκληρν σοι πρς κντρα λακτζειν. (At 26:14 BNT)

E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que me falava em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões. (At 26:14 ARA)

Mediante aos fatos até agora apresentados, podemos concluir o seguinte a respeito do que aconteceu no episódio do dia de Pentecoste:

Quando o E. Santo veio sobre os discípulos, eles falaram no que chamamos de línguas estranhas (glóssais), mas que elas chegaram nos ouvidos dos que visitavam Jerusalém no idioma em que eles falavam naturalmente (dialekto). Se porventura os discípulos não tivessem falado em um idioma que fosse além da compreensão humana, não haveria motivo para alguns terem dito que os tais estavam bêbados, pois nunca vimos um bêbado de uma hora para outra aprender vários idiomas ao ponto de chamar a atenção (At 2:13). Certamente eles estavam verbalmente falando semelhante a um bêbado. 

Ora, entre os que ouviram os discípulos falarem línguas estranhas, estavam também judeus, isto é, pessoas que falavam o idioma hebraico, no entanto eles também ficaram atônitos por verem e ouvirem judeus como eles, falarem línguas. “tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus? (At 2:11 ARA)”. Vale ainda salientar que foi Lucas, autor inspirado, quem quis usar duas palavras distintas para se se referir a línguas também distintas. Ele poderia apenas ter usado dialekto para narrar o evento em pentecostes, se porventura as línguas faladas pelo discípulos tivessem sido uma língua compreensível aos homens, mas não o fez.  Vale salientar que o “mundo” o qual o império romano governava, era poliglota, mas mesmo assim foi espantoso o tipo de linguagem falada pelos discípulos.


Fonte: http://apologia7biblica.blogspot.com.br/